O homem, preso à corrente dos desejos, não enxerga que continuará sempre insatisfeito, incapaz de preencher o vazio que o atormenta.
Vive ansioso e aflito, buscando algo que continue anestesiando suas angústias, até que, enfim, perceba que esse não é o caminho.
O Universo atua sobre ele, move-se com seus princípios e leis para conduzi-lo ao despertar — por isso existe o sofrimento. A dor e o desespero surgem como alertas, pois é preciso sair desse estado de entorpecimento.
A Vida cobra com rigor aqueles que negligenciam seus verdadeiros propósitos. Ele não veio ao mundo para se encantar com os brinquedos da matéria, mas para desenvolver suas potencialidades, para transcender a influência material. E isso, só é possível através do desapego.
O apego é a fonte de todo sofrimento humano, não há outra.
Tudo aquilo que machuca, incomoda e afeta o nosso ser está relacionado a algo que não conseguimos soltar. Criamos identificação com determinadas coisas, pessoas, crenças e padrões que, quando perdidos, nos fazem sentir amputados.
O sentimento de perda é uma ilusão, alimentada pelo falso senso de propriedade que estabelecemos sobre aquilo que, na verdade, nunca nos pertenceu.
Aceitar essa verdade é como retornar para casa após uma longa jornada de ilusões. É compreender que o propósito da existência não está em acumular, controlar ou vencer, mas em lembrar, libertar e simplesmente ser.
Quando soltamos o que não somos, revelamos o que sempre fomos. E nesse reconhecimento sereno da própria essência, cessa a busca, cessa o medo, cessa o sofrimento.
A vida não exige esforço para se viver com plenitude, apenas presença. E a presença só é possível quando deixamos de lutar contra o fluxo e nos tornamos parte dele.
Assim, o que antes era dor, transforma-se em luz. O que antes era perda, revela-se ganho. E o que antes era vazio, torna-se espaço sagrado para que o Divino possa habitar.
Porque, no fim, tudo o que precisamos... já está em nós.
Nada é nosso. Tudo o que existe está apenas de passagem — inclusive nós.
O apego é a tentativa desesperada de congelar o fluxo da existência, de segurar com as mãos aquilo que por natureza é transitório. E quanto mais resistimos à impermanência, mais sofremos.
A dor não vem da perda em si, mas da recusa em aceitar que tudo tem um ciclo: um início, um meio e um fim.
O desapego não significa indiferença ou frieza, mas liberdade.
É amar sem possuir, viver sem depender, doar-se sem esperar retorno. É compreender que tudo que chega é presente, e tudo que vai, liberação.
Só assim, com o coração leve e as mãos vazias, podemos caminhar em direção à verdade — aquela que não se desfaz com o tempo, porque não está condicionada ao mundo material.
A verdade não pode ser encontrada nas formas, nas posses ou nas relações baseadas na carência.
Ela habita o silêncio interior, floresce quando cessamos a necessidade de controle e nos rendemos ao fluxo da existência.
O ser humano, na sua essência, é vasto, livre, completo — mas esquece disso ao se identificar com o que é passageiro.
O desapego é o caminho de retorno ao ser.
Não é um processo fácil, porque exige coragem: a coragem de encarar o vazio, de se desfazer das máscaras, de abandonar as falsas seguranças.
Mas é nesse esvaziamento que o verdadeiro preenchimento acontece. Quando deixamos de buscar fora, algo dentro desperta. A paz não vem do mundo, vem do alinhamento com aquilo que somos além do ego e da forma.
A vida, então, deixa de ser um campo de batalha e se torna um espaço de aprendizado.
O sofrimento deixa de ser castigo e se revela como um chamado. Cada perda se transforma em um portal. Cada dor, em mestre. E assim, pouco a pouco, vamos nos libertando — não porque conquistamos algo, mas porque aprendemos a soltar.
Afinal, não há nada a ser conquistado.
Em essência, já somos tudo aquilo que precisamos ser. Não há o que ser melhorado — como poderíamos aperfeiçoar algo que foi criado por Deus? Não seria isso uma forma de presunção? Deus, sendo perfeito, jamais criaria algo imperfeito, algo que precise ser corrigido.
Essa é uma verdade profunda, mas que poucos conseguem conceber.
Conteúdo desenvolvido por Paulo Tavarez (Terapeuta Holístico, Palestrante, Psicapômetra, Instrutor de Yoga, Pesquisador, escritor) - E-mail: [email protected]