Bem-estar: a dor traz sempre um recado

A dor é uma advertência da própria natureza, um comunicado da alma; é preciso escutá-la, pois negá-la não será uma boa estratégia, uma vez que ela não irá desistir até que você receba o recado.

Ela permanecerá renitente e mesmo que você encontre meios de atenuá-la, seja através de remédios, distrações, drogas, diversão, luxuria, ou seja, mesmo que você lance mão de algum desses expedientes, tudo isso será inútil, pois quando o efeito deste entorpecente passar, ela continuará lá, teimosa, à espera de uma interlocução. Tal é a Lei.

Fugir da própria dor, além de uma atitude burra, é fugir da própria sombra imaginando que conseguirá, em algum momento, livrar-se dela. Onde quer que você vá a sua sombra ali está.

Não adianta sonhar com lugares paradisíacos sem antes estar bem para poder desfrutá-los. Nem mesmo imaginar-se em uma condição de vida melhor antes de conversar com essa dor. Não é o mundo ao seu redor que lhe trará o conforto necessário, mas um profundo mergulho dentro de si mesmo, dialogando com a própria alma.

Só assim você conseguirá alcançar a paz e o conforto desejados. 

É preciso sentir o sofrimento, ouvir o sofrimento, processar o sofrimento e dar um novo significado a tudo aquilo que estiver lhe incomodando.

Carl Gustav Jung já nos alertava: "O homem tem de lutar com o problema do sofrimento. O oriental quer livrar-se do sofrimento, expulsando-o; o ocidental procura suprimi-lo com remédios. Mas o sofrimento precisa ser superado, e o único meio de superá-lo é suportando-o. Aprendemos isso somente com Ele (o Cristo crucificado)". Carl Gustav Jung - Princenton University Press, 1973 - vol.1, p. 236.

Ele usou Cristo como exemplificação do arquétipo do sofrimento. Jesus aceitou a sua cruz, entregou-se aos seus algozes, não resistiu, não fugiu, encarou de frente um julgamento injusto, ouviu mentiras e infâmias, foi torturado, humilhado, tudo isso pra quê? Simplesmente para deixar um exemplo de coragem, desapego, humildade, com isso, tornou esse momento - o momento da crucificação - em um arquétipo do sofrimento e nos revelou de que forma temos que lidar como ele. 

Ninguém deveria viver em fuga eterna de si mesmo, fingindo estar bem quando o mais recomendável seria sentir as reclamações da alma e permitir que todas essas energias sejam transmutadas através de sua simples expressão. Essa é uma atitude inteligente, de coragem e de amor por si mesmo e não esconder-se da própria sombra através de mecanismos de fuga.